Para muitos cariocas um dos
circuitos históricos mais ricos da cidade acaba perdido na rotina. Na Praça Quinze
de Novembro passam mais de cem mil pessoas diariamente. Este fluxo é alimentado
pelos terminais de ônibus e das barcas para Niterói. O que poucos sabem é que o
local não só foi palco de grandes eventos históricos do país como sempre foi
uma das áreas mais movimentadas da cidade, pela proximidade com o porto.
A região fica exatamente entre os extintos morros do
Castelo e do Desterro. Eles foram os primeiros morros habitados do Rio de
Janeiro por uma questão prática de logística. Próximos ao porto, e consequentemente
ao comércio, ao Palácio do Real e às principais igrejas.
A Ladeira da Misericórdia recebe seus visitantes com lixo pelo caminho |
A principal entrada do Morro do Castelo era a Ladeira da Misericórdia, a primeira via pública carioca, aberta em
1567, dois anos após a fundação da cidade. Entre os onze prédios que haviam na
Ladeira, estava o Colégio de Padres Jesuítas.
Hoje a Ladeira da
Misericórdia encontra-se totalmente abandonada pelas autoridades. Além de uma
placa com informações históricas no pé da subida, não há nenhum atrativo para
os turistas. O topo desta ladeira, que hoje não tem fim, se tornou abrigo de
moradores de rua e local de acúmulo de lixo.
Morar nos morros significava não precisar atravessar as dificuldades das vias públicas nos séculos XVI e XVII. As ruas eram muito úmidas pela proximidade com a Baía e cobertas por esgoto e esterco dos cavalos utilizados no transporte. A proximidade com o mar também era muito maior. Um dos pontos de referência é a Igreja de Santa Luzia. A data de sua fundação é incerta. Tanto pode ter sido erguida em 1519, pelo navegador português Fernão de Magalhães, como em 1592, por religiosos franciscanos, que fizeram sua sede no morro do Desterro. O mar beirava a entrada da Igreja e nos fundos, estaria o morro do Castelo. Hoje a Baía, fica cerca de 400 metros da construção.
Para percorrer poucos metros entre o Paço Real, o Convento do Carmo e a Igreja do Carmo a realeza de Dom João VI utilizava, não somente passadiços, como possivelmente túneis. Hoje os passadiços não existem mais e nem se vê resquícios deles.
Abaixo do nível do mar, transitavam pessoas, onde é a atual 1º de Março |
As escavações na Igreja do Carmo, antiga Capela Real, já revelaram que onde hoje há camadas de mais de três metros de terra já foi local de habitação. A guia turística da Igreja do Carmo Ivone Lyra afirma que as descobertas feitas pelos historiadores em 2007 reforçam a teoria de que havia circulação de pessoas no nível abaixo do mar.
- Recentes escavações por edifícios na a Rua Primeiro de Março já revelaram que onde hoje há camadas profundas de terra, já passaram pessoas. E este é justamente o trajeto entre o morro do Castelo e o do Desterro, afirma Ivone.
Dentro da Igreja do Carmo foi inaugurada uma área de exibição dos achados históricos das escavações. Cerâmicas com motivos religiosos, artigos indígenas e até mesmo uma pequena barreira construída por índios fazem parte da coleção exposta.
- Esta barricada fazia parte da estratégia militar indígena. Ela á datada do século XVI, o que significa uma nova informação sobre a defesa das tribos litorâneas, que antes era desconhecida, declara a guia.
Escavações revelam barricadas indígenas do séc XVI |
A Igreja do Carmo foi palco da coroação de Pedro I e Pedro II, o velório de Dona Maria I, além do casamento da Princesa Isabel. Segundo a secretaria da igreja, só há vagas livres para casamentos a partir de 2015, e o aluguel varia entre quatro e cinco mil reais.
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