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domingo, 23 de junho de 2013

A história perdida na rotina

Para muitos cariocas um dos circuitos históricos mais ricos da cidade acaba perdido na rotina. Na Praça Quinze de Novembro passam mais de cem mil pessoas diariamente. Este fluxo é alimentado pelos terminais de ônibus e das barcas para Niterói. O que poucos sabem é que o local não só foi palco de grandes eventos históricos do país como sempre foi uma das áreas mais movimentadas da cidade, pela proximidade com o porto.
A região fica exatamente entre os extintos morros do Castelo e do Desterro. Eles foram os primeiros morros habitados do Rio de Janeiro por uma questão prática de logística. Próximos ao porto, e consequentemente ao comércio, ao Palácio do Real e às principais igrejas.

A Ladeira da Misericórdia recebe seus visitantes com lixo pelo caminho
A principal entrada do Morro do Castelo era a Ladeira da Misericórdia, a primeira via pública carioca, aberta em 1567, dois anos após a fundação da cidade. Entre os onze prédios que haviam na Ladeira, estava o Colégio de Padres Jesuítas. 
Hoje a Ladeira da Misericórdia encontra-se totalmente abandonada pelas autoridades. Além de uma placa com informações históricas no pé da subida, não há nenhum atrativo para os turistas. O topo desta ladeira, que hoje não tem fim, se tornou abrigo de moradores de rua e local de acúmulo de lixo.

Morar nos morros significava não precisar atravessar as dificuldades das vias públicas nos séculos XVI e XVII. As ruas eram muito úmidas pela proximidade com a Baía e cobertas por esgoto e esterco dos cavalos utilizados no transporte. A proximidade com o mar também era muito maior. Um dos pontos de referência é a Igreja de Santa Luzia.  A data de sua fundação é incerta. Tanto pode ter sido erguida em 1519, pelo navegador português Fernão de Magalhães, como em 1592, por religiosos franciscanos, que fizeram sua sede no morro do Desterro. O mar beirava a entrada da Igreja e nos fundos, estaria o morro do Castelo. Hoje a Baía, fica cerca de 400 metros da construção.
Para percorrer poucos metros entre o Paço Real, o Convento do Carmo e a Igreja do Carmo a realeza de Dom João VI utilizava, não somente passadiços, como possivelmente túneis.  Hoje os passadiços não existem mais e nem se vê resquícios deles.

Abaixo do nível do mar, transitavam pessoas, onde é a atual 1º de Março 

As escavações na Igreja do Carmo, antiga Capela Real, já revelaram que onde hoje há camadas de mais de três metros de terra já foi local de habitação. A guia turística da Igreja do Carmo Ivone Lyra afirma que as descobertas feitas pelos historiadores em 2007 reforçam a teoria de que havia circulação de pessoas no nível abaixo do mar.
- Recentes escavações por edifícios na a Rua Primeiro de Março já revelaram que onde hoje há camadas profundas de terra, já passaram pessoas. E este é justamente o trajeto entre o morro do Castelo e o do Desterro, afirma Ivone.
Dentro da Igreja do Carmo foi inaugurada uma área de exibição dos achados históricos das escavações. Cerâmicas com motivos religiosos, artigos indígenas e até mesmo uma pequena barreira construída por índios fazem parte da coleção exposta.
- Esta barricada fazia parte da estratégia militar indígena. Ela á datada do século XVI, o que significa uma nova informação sobre a defesa das tribos litorâneas, que antes era desconhecida, declara a guia.

Escavações revelam barricadas indígenas do séc XVI

A Igreja do Carmo foi palco da coroação de Pedro I e Pedro II, o velório de Dona Maria I, além do casamento da Princesa Isabel. Segundo a secretaria da igreja, só há vagas livres para casamentos a partir de 2015, e o aluguel varia entre quatro e cinco mil reais.

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